Uma cidade de dois nomes, que me atraiu por uma lenda...
Quetzaltenango é a segunda cidade mais importante da Guatemala, também é conhecida como Xelajú ou simplesmente Xela.
Esses nomes tem origens de muuuuito antes da conquista espanhola devido a um grande vulcão que era chamado Lajuj Noj (significa dez Idéias) e no seu topo havia um altar sagrado maia com o mesmo nome.
Os K'iche chamavam a área ao pé do vulcão de "She Lajuj Noj" e com o tempo deixaram de mencionar o Noj para encurtar o nome e assim nasceu Xelajú. E depois de encurtar mais ainda ficou "Xela".
Já a mudança para o atual nome "Quetzaltenango", algumas histórias dizem que surgiu da morte de Tecún Umán pelas mãos de Pedro de Alvarado, momento em que um quetzal pousou no peito ensanguentado do guerreiro, e a cidade foi nomeada em homenagem a esse evento.
Também há informações de que porque os Tlascaltecas que acompanhavam Pedro de Alvarado viram grande número de pássaros nesta área, que chamaram de quetzalis em náuatle . Foi assim que passou do antigo nome —Xelajú— ao atual, Quetzaltenango.
Nas ruas da cidade admiramos a história contemporânea em sua arquitetura, algumas construções nos lembram a Itália ou a Grécia... Sim, lá tem um pedaço da Europa em seu visual.
Ah... uma coisa interessante na cidade é que está cheia de pontes, algumas que não levam a lugar nenhum, creio que a necessidade de uma ponte para atravessar uma rua não estar muito clara nos dias de hoje, mas é possível que nos anos de 1800 e bolinhas as ruas de Xela costumavam inundar regularmente... É a única explicação.
E além de tudo, a cidade ainda possui o grande vulcão Santa Maria ao fundo para ornamentar mais ainda sua paisagem.
Mas como disse no início desse texto e também na postagem anterior, o que me atraiu até a cidade foi uma lenda, de uma cigana chamada Vanushka.
Existem várias versões da história dela, porém, uma das mais conhecidas relata que em 1920 um grupo de ciganos chegou às terras altas num pequeno circo que foi colocado nos arredores da cidade de Quetzaltenango.
Havia um grande espetáculo onde a protagonista era uma mulher, dançarina, domadora de animais e ocultista, seu nome era Margarita Mielos. Margarita era conhecida como Vanushka, que na língua cigana significa mulher bonita.
Um dia o filho do governador assistiu ao espetáculo e ficou imediatamente impressionado com a beleza da cigana... Em seu ato, Vanushka geralmente contava com a ajuda de uma pessoa da platéia para ajudá-la e o filho do governador foi quem nesta ocasião foi ao picadeiro do circo... Após este encontro, ele a visitou várias vezes em segredo, resultando em um amor apaixonado.
O pai do jovem, percebendo o romance decidiu mandá-lo para a Espanha e quando Vanushka descobriu que seu amor havia sido enviado à Europa ficou muito triste... Diz a lenda que o choro agonizante dela fez seu coração parar de bater levando-a a morte.
Agora, "do além", ela ajuda as pessoas que lhe pedem para encontrar seus amores perdidos... Sua fama aumenta no dia dos namorados onde muitas pessoas visitam seu túmulo para pedir-lhe um amor ou uma família. Existe até uma música dedicada a ela.
Eu não fui para buscar "um amor", fui porque adoro lendas e cemitérios, quem me acompanha sabe a admiração que tenho pelas tumbas...
Cheguei em Xela no dia das mães e achei que era uma boa data para visitar o cemitério, já que é bastante movimentado nesse dia... Mas para minha grande tristeza, estava fechado desde a pandemia... E sem data para reabrir! As pessoas que passavam, deixavam flores no portão.
Esse fato me deixou extremamente abalada... Eu já estava afetada com tudo que havia acontecido na ultima semana e quando cheguei na cidade, o Couchsurfing que ia me receber havia viajado e me indicou outros amigos para me hospedar...
Eu fui ao cemitério porque é realmente um lugar que gosto de estar e me transmite paz... E quando não me permitiram entrar, eu comecei a chorar de uma forma que nem sei explicar o porquê. Passei 2 horas por ali, sentada vendo as pessoas colocarem rosas no portão... Arrudiei o quarteirão para ver se existia outra entrada, até cogitei pular uma parte do muro que era mais baixa... Então comprei uma rosa laranja, coloquei-a no portão e decidi ir embora.
Eu fiquei em uma casa super bem localizada, bem pertinho do centro, lá também estava outro viajante, o Ricardo, um peruano muito simpático que está viajando há 6 anos sigam ele aqui.
Nosso anfitrião foi excelente, abriu a porta de sua casa, nos deixou super a vontade, explicou como chegar em alguns lugares e até café da manhã nos preparou... Ficamos tão "bem acostumados" que em vez de 2 noites passamos quase uma semana.
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Ricardo, eu e Joney |
Quetzaltenango é uma das cidades mais frias de toda a América Central. Suas temperaturas podem medir no inverno até 9 graus centígrados abaixo de zero. Mas como não estamos no inverno, o clima estava super agradável durante o dia e fazia um friozinho gostoso durante a noite.
Eu passava a maior parte do dia na casa, que tinha uma energia muito boa e era um lugar agradável para descansar e escrever... A noite sempre tinhamos algo diferente para fazer...
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Cristian, eu, Joney, Ricardo e Will |
Tive aulas de Salsa e Bacharta com o melhor dançarino da cidade, conheci pessoas locais, bebi até esquecer os problemas, fiz amor de uma forma maravilhosa e dormi de conchinha... Por um leve momento achei que Vanushka tinha ouvido meu inconsciente, mas uma atitude imperceptível para uma sociedade naturalmente machista me lembrou do que eu realmente quero pra mim.
Há pouco mais de um ano eu conheci um viajante que escreveu "Encontros e despedidas é algo corriqueiro na vida de um mochileiro. O meu medo é já estar sabendo lidar com isso e me tornando uma pessoa fria." (Essa frase ainda está estampada em uma de nossas fotos no seu Instagram).
Xela ficou no meu coração, na minha mente e nos meus desejos. Mas eu tive que partir...
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