Decidimos visitar Alexandria separado do grupo, então contratamos um carro privativo saindo do Cairo. Queríamos ter mais liberdade de conhecer o lugar ao nosso ritmo, podendo decidir ficar mais ou menos tempo em cada lugar visitado, fato que não dá para fazer em excursões com mais gente. Estávamos empolgadas para ver o que restava da cidade que já foi o epicentro da civilização ocidental.
CHEGAMOS! e, imagino que Alexandre, o Grande, provavelmente deve estar se revirando no túmulo em ver no que sua cidade se tornou.
No passado, Alexandria era um oásis cultural, com ginásios, teatros, bibliotecas e mercados sofisticados que foram construídos com o propósito de atrair gregos exigentes... Hoje, a arquitetura do abandono com prédios inacabados e fachadas descascadas atrai pombos, trânsito caótico e vendedores insistentes tentando nos empurrar souvenirs de qualidade duvidosa.
Nosso primeiro destino foi as Catacumbas de Kom El-Shoqafa, que é um cemitério em baixo da terra, e como amo visitar cemitérios, claro que me empolguei. O lugar é um impressionante labirinto subterrâneo onde romanos e egípcios do passado resolveram misturar suas tradições funerárias.
Lá podemos encontrar sarcófagos egípcios com decorações romanas e uma pitada de arquitetura grega. Um verdadeiro mix funerário.
Em seguida, fomos ao Teatro Romano de Kom El-Dikka. Na época dos romanos, devia ser um espetáculo assistir a peças e discursos nesse teatro de mármores trabalhados. Hoje, não acontece mais nenhum evento cultural no local. E boa parte ainda está sendo escavada por arqueólogos na busca de mais resposta quanto a vida e morte de Alexandre, pois até a data de hoje, ainda não encontraram seu túmulo.
Seguimos para a Biblioteca de Alexandria, lugar mais esperado por nós. A original foi fundada no século III a.C. para atrair a população grega e promover o funcionamento da corte. Passou por várias destruições desde incêndios, terremotos e ataques por ordem religiosa... Então, em 1995, o governo egípcio junto com a UNESCO resolveram reconstruí-la através de esforços econômicos de vários países europeus, americanos e árabes. O prédio atual foi finalizado em 2002, é muito bonito e moderno, parece uma espaçonave pousada no meio do caos urbano.
A nova biblioteca tem milhões de livros além de uma grande quantidade de obras digitais e recursos para pesquisa, a maioria sobre o Islamismo. Só falta convencer os taxistas locais de que conhecimento é mais valioso do que buzinas.
Fizemos uma pausa para almoçar em um restaurante com vista para o mar. Nos serviram pão, patês e salada, seguidos do prato principal que foi um arroz escuro com filé de peixe empanado. Estava muito bom.
Finalizamos o dia em Qaitbay, que ocupa o local onde um dia brilhou o lendário Farol de Alexandria, uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo. A fortaleza é bonita, bem preservada e tem uma vista espetacular do Mediterrâneo. Foi a cereja do bolo! Deu até para imaginar navios chegando cheios de mercadorias e marinheiros embriagados discutindo filosofia.
Hoje, vemos vendedores oferecendo "autênticos" papiros made in China e locais pedindo para tirar fotos com turistas diferentões (tipo eu hahaha).
No fim, Alexandria foi uma experiência curiosa. Ainda que esteja longe de seu esplendor passado, tem seu charme caótico e decadente. Alexandre, o Grande, pode ter sonhado com uma metrópole refinada (o que deve ter sido em sua época), mas a realidade atual é outra. Os antigos gregos precisaram de ginásios e bibliotecas para se sentirem em casa, hoje o que nos trás aqui é o resquício do que eles viveram.
Assista no meu Instagram como foi esse dia: Egito