Quando eu vi que o itinerário do cruzeiro incluía uma parada em Cabo Verde eu fiquei bastante animada... Já tinha ouvido falar do arquipélago, que eles falavam português e inclusive tive até curiosidade em saber preços de moradia para talvez me aventurar por lá algum dia.
Cabo Verde é um arquipélago situado na costa oeste da África, no Oceano Atlântico, é conhecido por suas praias que oferecem paisagens paradisíacas, águas cristalinas e uma rica diversidade natural. As praias de Cabo Verde variam entre aquelas com areias douradas, com dunas e formações rochosas que criam cenários únicos.
Sua colonização começou em 1462, quando os portugueses chegaram lá... Sua localização estratégica entre a África, a Europa e o Novo Mundo transformou o país em um importante centro de comércio, incluindo o triste tráfico transatlântico de escravizados... Sim, o arquipélago foi usado pelos portugueses como um entreposto para escravos capturados na costa africana e enviados para as Américas (inclusive Brasil). E isso fez o país se tornar uma mistura de povos africanos e europeus, resultando na cultura crioula que caracteriza o país até hoje.
Cabo Verde só conquistou sua independência em 1975, após décadas de luta, mas na verdade eu ainda tenho dúvidas se posso chamá-lo de um país independente...
Quando o navio atracou no porto de Praia (capital do país), localizada na Ilha de Santiago (maior e mais populosa ilha do arquipélago), eu desci ansiosa para explorar a cidade... Eu tinha oito horas para fazer o que quisesse, mas confesso que voltei para o navio muito antes do esperado, pois foi para mim uma experiência decepcionante.
O calor era sufocante (e olha que eu gosto de calor)... Mas o que me impactou mais foi a pobreza evidente por todos os lados... As ruas estavam mal conservadas, vi lixo acumulado em diversos pontos e esgoto a céu aberto sendo despejado no mar, o que trazia um odor extremamente desagradável.
Vi mendigos pedindo na rua e muitos vendedores ambulantes. As pessoas pareciam cansadas, como se carregassem nas costas o peso de uma vida dura demais, mesmo assim tinham um sorriso no rosto (único ponto positivo).
Eu queria aproveitar e conhecer mais da cultura local, então caminhei por lugares menos turísticos e conversei com alguns taxistas... Eles me disseram que todos falam o crioulo, e apenas quando vão a escola é que eles aprendem o Português (idioma oficial). No entanto, apesar da educação ser gratuita e obrigatória até os 18 anos ou conclusão do ensino médio, nem todos vão. Então é comum encontrar locais que não falam português.
A saúde também é gratuita mas segundo eles é bem precária... Vi muitas lojas que vendiam xing lings (imitação chinesa), e, sinceramente, nada me chamou a atenção.
Caminhei pelo centro histórico com suas ruas e construções antigas, vi alguns edifícios coloniais que apesar de mal preservados, guardavam traços de uma beleza antiga, também vi algumas estátuas e bustos de bronze que não consegui identificar todos...
Passei pelo mercado de frutas e verduras tentando encontrar algo exótico ou diferente, mas tudo que vi também temos no Brasil.
Então fui até o Palácio Presidencial, para ver algo mais conservado. Lá não se pode "pisar" na calçada, muito menos tirar fotos, e tenha certeza de que se você tentar, algum guarda armado vai chamar sua atenção. Terrível!
Já estive na África, em quase toda América Central e do Sul, e pude perceber o quanto a história colonial deixou marcas... Em Cabo Verde isso é bem evidente. Não pude deixar de pensar que todos os países colonizados por Portugal enfrentam problemas parecidos: pobreza, desigualdade e uma infraestrutura precária. É como se o modelo de exploração econômica daquela época tivesse perpetuado um ciclo de desajuste e abandono.
Depois de cerca de três horas andando sob o sol escaldante e sem encontrar nada que me prendesse àquela cidade, eu voltei ao navio bem antes do previsto, mas aliviada por poder descansar em um ambiente mais confortável.
É claro que entendo que Cabo Verde tem suas belezas, talvez nas praias ou em outras ilhas, mas Praia, para mim, foi apenas um retrato da dificuldade de um país que ainda parece lutar para superar um passado pesado e injusto.
Infelizmente eu deixei o lugar com um sentimento de tristeza ao invés da inspiração que esperava encontrar. E com uma certeza absoluta: a vontade que um dia tive de morar lá passou imediatamente.
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