sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Vencendo os medos

Morei até meus 12 anos em uma fazenda.

O céu era sempre estrelado, a noite sons de grilos, vaga-lumes pelo ar e sapos ao seu redor na espera do momento perfeito.

Era apenas meus pais, minhas duas irmãs e eu. Dormíamos cedo, acordávamos mais cedo ainda. Copo com nescau e açúcar na mão, remela nos olhos... Corríamos para o curral, o leite saia quentinho da vaca direto no copo.

Rumo a cidade, assistir aula em um colégio católico, comandando por Padre e Freiras.

A tarde, banho de açude. Vamos brincar de quem atravessa primeiro?

Noites de brincadeiras como baleada, 7 pecados, esconde-esconde... Uma cobra!!! Corriam todas com um cabo de vassoura na mão. Tem que acertar na cabeça.

Caranguejeira? Quando aparecia (quase todas as noites, principalmente no inverno), jogávamos álcool e acendíamos um fósforo. Era incrível a visão daquela tocha correndo, e logo logo se encolhendo... e morrendo.

Passei minha infância arrodeada de bichos, sem som de trânsito, iluminação da cidade ou conversas de vizinhos...

Em 2001 (consigo me lembrar bem da data, pois foi o ano em que meu pai faleceu), estava no banheiro, a cerâmica da parede amarela, a água fria, era final de tarde. Uma aranha pequena aparece em baixo do tubo de shampoo. Senti um frio que subiu do dedo do meu pé até arrepiar minha cabeça. Não me movia, não conseguia gritar... Estava completamente pálida. Um medo gradativo inexplicável.

Anos se passaram e eu não conseguia nem entrar em locais que tivessem aranhas no teto. Sabe aquelas que não vemos nem as pernas? Pois é, também tinha medo dessas.

Desenhos, fotos, brinquedos... Qualquer objeto com aranhas me assustava.

Por que estou escrevendo tudo no passado?

Bem, a pouco mais de um mês ganhei da minha chefe, uma caneta com uma aranha de borracha na parte de cima (Pra você perder o medo, ela disse). No início, apenas coloquei junto as outras canetas, e tinha muito cuidado em não encostar nela.

No dia do meu aniversário decidi levá-la, pois havia uma folha onde as pessoas assinavam sua presença. Final de noite lá estava eu, segurando a caneta, apertando as perninhas, sem medo.

Grande evolução heim? Mas era apenas uma aranha de borracha... Que mal faria? Pergunta que não conseguia responder a um pouco mais de tempo.

Não sei dizer se foi a caneta, mas hoje pela manhã aconteceu algo realmente incrível.

Subi na minha moto para vir trabalhar, quando olhei para o painel estava ela, uma aranha pequena, gordinha e marrom, costumávamos chamar essa espécie de “papa-moscas”, pois é do que elas se alimentam.

Em outros tempos, eu teria chamado alguém imediatamente para retirá-la, mas em vez disso, subi na moto e continuei meu percurso. Ela se encolhia toda vez que eu acelerava, ia de um lado para o outro, me olhava com seus oito olhos, mas não caía. Me acompanhou até o trabalho.

Li em um artigo que: “Fobias são geralmente associadas a algum trauma ou experiência negativa vivida em alguma fase da vida, principalmente na infância.” (http://www.forcesystem.com.br/artigos/index.php/fobias-esquisitas-medos-estranhos/)

Será que estou me curando de um trauma que nem sei qual é?

Ontem enfrentei um dos meus maiores medos e dormi tranquila. Será que tem alguma ligação?

Não sei explicar o quê, mas algo de muito bom aconteceu.


Essa aí em cima é uma espécie das caranguejeiras que eu matava quando era criança.


Essa foi a espécie que subiu na minha moto hoje. Sei que a diferença é gritante, mas estou muito feliz pelo ocorrido.

3 comentários:

Ninguém disse...

VIVAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA Parabéns e depois vou dar um bjo na sua chefe...Mas principalmente por ter passado por cima de outros medos...isso além de cura se chama MATURIDADE....Sempre em frente....

Titio disse...

Eita Alessandra.
Esta aranha que estava na sua moto está mais para uma mosca do que para uma aranha!
Não vale não!
Bjs.

Alessandra Nogueira disse...

Pois é Joyce, enfrentar alguns medos faz achar outros sem sentido. E estou adorando enfrentá-los.

Poxa Titio, temos que começar das pequenas coisas não? Pra mim já foi um grande avanço.