domingo, 29 de maio de 2022

O Banco Alê

Eu tive o privilégio de nascer em uma família rica... Fui uma criança que morou em uma fazenda onde todos almejavam para passar férias... Vivi em uma casa grande com ar condicionado até na cozinha... No meu quarto tinha tv com canais da antena parabólica e uma infinidade de brinquedos, tive videogame e computador em casa antes mesmo de conhecer a Internet. Minha única preocupação era fazer o dever de casa e brincar.

E assim foi minha infância até meus 12 anos, quando saí de Pombal e fui morar em João Pessoa.

Nessa capital maravilhosa eu não era mais a "filha de Paulinho de Paulo Pereira", e a apesar de morar em um bairro nobre, não tinha luxo... Eu era apenas "mais uma".

Me encantei com a mudança radical de uma vida no meio da natureza em uma pequena cidade de interior para uma cidade praiana, com shopping, supermercado e transporte público.

Com 14 anos tive meu primeiro "emprego": Trabalhava na pista de patinação no gelo... Apesar de não precisar trabalhar, eu queria ter minha independência e viver daquilo que eu mesma pudesse conquistar, e não ser apenas mais uma herdeira da família Pereira (sim, esse também é meu sobrenome).

Trabalhei distribuindo panfletos no sinal, servindo rodízio em uma pizzaria, organizando festas em uma boate e atendendo no caixa de uma sorveteria... Não tinha tempo ruim!

Eu conclui o ensino médio com 17 anos e logo comecei a trabalhar na Caixa Econômica. Tive meu primeiro talão de cheques antes mesmo de atingir a maior idade.

Eu era a única entre meus amigos que tinha uma conta corrente no banco, eu tinha crédito, cheque especial, cartão...

Comecei a pagar conta de amigos, emprestar cheques e confiar neles... Recebi muitos calotes, inclusive golpes.

Segui adiante, continuei trabalhando, saí da casa dos meus pais, casei, fiz faculdade.

Meu pai faleceu e eu herdei um sítio, um carro e alguns lotes de terreno... Com a venda do sítio eu comprei meu apartamento.

Meu marido era dependente de todos os meus cartões de crédito, pois eu era a pessoa da casa que tinha um "emprego fixo". Depois do divórcio ele levou o carro e eu fiquei com as dívidas dos cartões que chegavam fatura após fatura.

Segui trabalhando, comprei uma moto, fiz especialização e escolhi a área de RH para me dedicar, pois sempre acreditei que o capital humano é o mais valioso de qualquer empresa ou instituição.

Vendi todos os lotes de terreno que tinha, remodelei meu apartamento, comprei um carro, dei um quarto para meu sobrinho, equipei o banheiro de uma amiga, coloquei silicone, fiz uma mega festa de aniversário, viajei para os Estados Unidos e para Europa.

Amava trabalhar e me dediquei ao máximo a minha profissão... Sempre assinei meu nome como Nogueira porque queria ser reconhecida pelo que sou, e não pelo sobrenome do meu pai. Representei o Conselho Regional de Administração da Paraíba e viajei bastante por congressos, convenções, workshop, festivais...

Trabalhei para a Prefeitura e para o Estado ao mesmo tempo (mesmo quando eram de partido rivais)... Sempre levei meu trabalho muito a sério. Cheguei a ganhar mais de 11 salários mínimos por mês...

Fui o "cartão de crédito" de muitos amigos, inclusive era chamada de "Banco Alê", pois sempre estava ali, com crédito disponível para suas dívidas, compras, lazer, farras...

Parei de trabalhar, garanti uma boa reserva para ficar sossegada por pelo menos 3 anos e comecei a viajar fazendo voluntariado.

Dessa minha reserva, ajudei 4 amigos emprestando uma quantia em dinheiro num momento de sufoco... Foram mais de 24 mil reais transferidos por PIX... Pois não consigo ver ninguém passando sufoco enquanto eu posso ajudar... Continuei ajudando outras pessoas comprando algo aqui, passando o cartão ali, pagando uma conta... E nunca me faltou!

Quando viajei para o México eu só tinha 7 mil reais na conta para continuar pagando as despesas de condomínio, energia, internet, plano dentário, plano telefônico, previdência e claro, os custos da viagem. Estou há 7 meses com as mesmas despesas... Inexplicavelmente, toda vez que eu acho que o dinheiro vai acabar, cai um saldo na minha conta, seja de restituição de IR, de indicação da Worldpackeres, de processos trabalhistas ou do Airbnb vez ou outra com o aluguel do meu apartamento...

Mas eu nunca vivi tão a mercê do acaso como agora. Das 4 pessoas que ajudei, uma já me pagou, outra segue pagando em pontuais prestações e outras duas simplesmente "nem nem"... Se me pagassem, hoje eu teria um saldo de 6 mil na conta, e não estaria preocupada em talvez ter que voltar para o Brasil "antes".


Viajando eu me descobri. Me autoconheci. Me fortaleci. Me valorizei. Me encontrei...

Conheci pessoas que viajam por amor, outras porque não tem escolha... Alguns que nem sabem o que vão comer ou onde vai dormir... Alguns tantos que estão fugindo de um vida onde a moral e o preconceito os exclui da sociedade... Outros que fugiram do seu país por causa da violência, da pobreza e da fome... Conheci viajantes que voltaram para suas casas porque sentiram a necessidade de voltar... Conheci outros que morreram na estrada, sem se despedir, fazendo o que amava e sendo feliz...

SIM! Pude ter o privilégio de conhecer e vivenciar muitas histórias... E ainda estou vivendo.

Sinto falta da minha casa, do conforto da minha cama, do banheiro limpo com piso de azulejos, do caranguejo, do cuscuz e da tapioca. De minhas amigas me chamando pra conversar enquanto faz faxina ou simplesmente para estar juntas...

Mas estou tão encantada com tudo que estou vivendo que sinto que ainda não está na hora de voltar, AINDA... E não queria ter que deixar de viver isso simplesmente porque confiei nas pessoas, pois não quero deixar de acreditar nelas...

Ou porque o Banco Alê faliu por falta de credores. E se eu voltar,  não é por necessidade, é por decepção.

quarta-feira, 25 de maio de 2022

El Salvador

Eu não tinha ideia do que ia encontrar quando saísse da Guatemala chegando em El Salvador, não pesquisei nada pela internet nem busquei informações sobre o país... Fui disposta a conhecer o que fosse me apresentado, sem expectativas e de mente aberta.




Fui convidada por Joana, uma Salvadorenha que conheci quando estava na Cidade da Guatemala, ela me deu todas as dicas de transporte para cruzar a fronteira e foi me buscar no terminal de ônibus da "Transportes del Sol", muito bom por sinal.

terminal na Cidade da Guatemala

fui a única passageira

lanchinho ofertado pelo transporte

Aduanda

nem precisei descer do ônibus


terminal em San Salvador

El Salvador é praticamente do tamanho da Paraíba, possui apenas 14 estados e é muito fácil se deslocar de uma cidade a outra em poucos minutos.

Há 20 anos utiliza o dólar americano como moeda principal, mas desde setembro do ano passado (2021) se tornou o primeiro país no mundo a adotar o Bitcoin como moeda oficial.

Pra quem não sabe, Bitcoin é um tipo de dinheiro que só existe no meio virtual, ou seja, você nunca verá uma nota de Bitcoin. É uma criptomoeda que surgiu em 2009. Eu mesma não tenho muito conhecimento no assunto e confesso que depois de visitar El Salvador fiquei bastante interessada.

Em todo lugar existem caixas eletrônicos onde você pode comprar, vender ou sacar seus Bitcoin na moeda local, e também é aceito em todos os lugares, até mesmo no mercado público. Pode não aceitar cartão de crédito, mas Bitcoin aceita.

Terminais com caixas eletrônicos de Bitcoin 

ATM de Bitcoin

plaquinha informativa que aceita pagamento em Bitcoin

loja de variedades dentro do mercado público

Digamos que o atual presidente é bem moderno. Ele é um jovem salvadorenho descendente de turco e está mudando o país de uma forma nunca vista nos últimos anos... E pelo que escutei dos locais nos dias que estive em El Salvador, a população está bem satisfeita com o que vem acontecendo, desde a retirada dos camelôs das ruas de San Salvador colocando-os em grandes mercados e deixando o centro da capital mais "limpo"...

rua do centro da cidade "sem camelôs" pela primeira vez após 30 anos

camelôs que ainda serão retirados

um dos mercados que receberão os camelôs

Até o fato de prender os membros de gangs diminuindo a criminalidade nas ruas, tornando a taxa de homicídios a menor em duas décadas. E com o impulso da prosperidade compartilhada, El Salvador chegou a ser o país mais igualitário da América Latina e Caribe (ALC) em 2019.

foto do presidente estampada no calendário

O país também está adquirindo grandes obras em parceria com outros países como a China.




construção da Biblioteca Nacional

construção de um cais turístico na praia La Libertad

Tenho certeza de que se continuar nesse ritmo, daqui a 5 anos o país será outro... Ojalá!

Joana me recebeu em sua casa, em Santa Tecla. Acompanhei a vida cotidiana dela com seus filhos, esposo, primos e amigos...

Johana, Carlito, Sebastián e eu

uma noite de pastel com brigadeiro

Sebastián, eu, Carlito e Johana

E cada dia ela fazia um tour diferente comigo. Me levou até o centro de San Salvador, no mercado para comer as tradicionais pupusas, nas ruínas de Tazumal em Chalchuapa onde almoçamos uma macaxeira deliciosa na casa de sua cunhada Iasmim, passamos na cidade de Santa Ana em que conheci seu primo Hugo, jantamos no vulcão para comemorar o aniversário de um de seus entiados e fomos 3 vezes à praia.

centro de San Salvador


Catedral Metropolitana de San Salvador

Iglesia del Rosario em San Salvador

Palacio Nacional em San Salvador

Sebastián,  Johana e eu


Teatro Nacional de San Salvador

Pupusa













Johana, eu e Sebastián






Yuca con Chicharrón (macaxeira com torresmo)

isso nos saquinhos é suco de frutas

Johana, Iasmim e eu

Catedral Nuestra Señora Santa Ana




coreto do Parque la Libertad em Santa Ana

Palacio Municipal em Santa Ana


Teatro de Santa Ana


Eu, Juan, Luis, Leslie, Katya, Diego e Johana

Outra coisa que eu não sabia é que El Salvador possui praias com grandes ondas e é destino de muitos surfistas. Inclusive vai ter um campeonato mundial em junho deste ano...

Lis, Johana, Sebastián e eu

Playa El Tunco






Eu e Johana

Smirnoff Ice, ostras e cerveja

Playa la Libertad






Na primeira vez que fomos a praia de El Tunco, conheci alguns brasileiros que estavam viajando em um grupo de 22 homens, único e exclusivamente para surfar... Na terceira vez que fomos passamos o "day use" justamente no hotel em que eles estavam hospedados, e um deles me convidou para passar a noite lá, reservando inclusive uma suíte.


Juan, Johana e eu

eu e os brasileiros

Michel e eu


Carlos, Juan, Johana, eu, Michel, Leopoldo e Ivan na frente

El Tunco me lembrou muito a praia de pipa com suas ruas estreitas, bares e lojas movimentadas até tarde por turistas praianos...



A noite regada com Smirnoff Ice e vinho ao som de todo tipo de estilo musical onde caminhávamos de havaianas de bar em bar não poderia ser melhor.

Que saudade eu tava da pegada arretada de um brasileiro. Não quero desmerecer os estrangeiros, jamais! Mas é que digamos que os brasileiros "se entendem"... e pela primeira vez tive um squirting durante um anal. Uau!

Digamos que foram 10 dias realmente muito bem vividos em El Salvador. Onde levo comigo a lembrança de excelentes lugares, comida deliciosa e pessoas maravilhosas na minha vida.

Segue algumas curiosidades:

a praça de San Salvador fica lotada todas as tardes

com pessoas tocando, cantando e dançado

e outras simplesmente olhando

geralmente são idosos



estava na safra de mangas

e tem muita variedade de mangas

também existe remédio para todos os males





caranguejos uçá, africano e guaiamum são vendidos juntos

água de coco é vendida fora do coco

e com gelo

em um saco com canudo


frutas picadas também são vendidas em sacos

quase tudo é vendido em saco plástico

água mineral

Pizza de camarão com tintura de lula

presidiários limpando a praia

dentro da Catedral de San Salvador está o túmulo com Óscar Romero

ele foi beatificado em 2015 por Papa Francisco

Foi Arcebispo de San Salvador e é considerado um mártir 

Eu e Nala

Nala

Já ia seguir pra Honduras, pois o comportamento machista dos "chapíns" me deixaram com uma má impressão da Guatemala, mas decidi voltar ao país, dessa vez para o outro lado do mapa, o menos turístico, para praticar o nadismo onde literalmente não há nada pra fazer... Escrever, meditar, dormir, comer... Até o ócio me cansar e dizer: siga!

de volta ao Chicken Bus